terça-feira , 22 outubro 2024
Júlia de Fátima

Tendência entre jovens e preocupação entre especialistas: 11 milhões de brasileiros utilizam remédios para dormir

Em estudo realizado pelo Estadão com 553 pessoas, 35% que afirmaram fazer uso de medicamentos para dormir sem prescrição médica 

A dependência de medicamentos para dormir é um problema crescente, especialmente entre pessoas que enfrentam dificuldades crônicas de sono. O Dr. Arthur Guerra de Andrade, psiquiatra e coordenador do Núcleo de Álcool e Drogas do Hospital Sírio-Libanês, explica que os sinais mais comuns de dependência incluem a necessidade contínua de usar o remédio, mesmo quando há sono, por medo de acordar durante a noite. “Outro sinal é o uso do remédio com álcool, mesmo sabendo que não se deve misturá-los, o que pode levar a complicações graves”, alerta. 

Mais de 70% dos brasileiros têm problemas para dormir, de acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), e os riscos a longo prazo são igualmente preocupantes, com a possibilidade de dependência psicológica e física. Pessoas que desenvolvem essa dependência podem sentir sintomas de abstinência, como tremores e ansiedade, quando deixam de tomar o medicamento. Um estudo realizado pelo IBGE, explica que 11 milhões de brasileiros, o equivalente a 7,6% da população, utilizam medicamentos para dormir.

“Os principais riscos a longo prazo para a saúde, quando a pessoa toma remédios sem prescrição médica, incluem, em primeiro lugar, o risco de dependência. A dependência pode ser particularmente problemática, pois a pessoa precisa obter o remédio, muitas vezes de forma ilícita, seja comprando de outras fontes ou solicitando a prescrição a diferentes médicos”, explica o médico. Além disso, há casos em que o paciente continua usando o medicamento por conta própria, seguindo uma prescrição antiga, o que agrava a situação.

Estudante universitário de 20 anos, Cauã Raoni, compartilha sua experiência com o uso de medicamentos para dormir. “Estou tomando faz um pouco mais de um ano, comecei quando notei que precisava de um esforço muito grande para dormir”, diz. Ele já tentou alternativas como fitoterápicos e práticas de higiene do sono, mas nada pareceu resolver o problema. “Percebo que tenho dificuldade para conseguir iniciar meu dia após uma noite de sono longa, devido ao efeito do remédio”, conta.

Fatores emocionais como ansiedade e estresse acadêmico também contribuem para o uso desses medicamentos. O especialista destaca que, em casos de ansiedade severa ou depressão, é comum recorrer aos remédios para regular o sono. “É fundamental que o tratamento seja monitorado por um único médico, evitando o uso indiscriminado de múltiplas prescrições”, orienta.

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Para o estudante, a ideia de parar o uso do medicamento está presente, mas ele admite que ainda não se sente preparado. “Acredito que possa melhorar e interromper, é uma vontade que tenho, mas sei que por enquanto não conseguiria”. Ele comenta que não faz um acompanhamento frequente ao médico e não se considera um dependente do medicamento.

Além das medicações, o Dr. Arthur enfatiza a importância de considerar alternativas naturais e terapias comportamentais para combater a insônia. Atividades físicas regulares, meditação e mudanças nos hábitos de sono podem ser eficazes sem o uso de remédios. “Exercitar-se pela manhã pode ajudar a melhorar a qualidade do sono à noite. Contudo, praticar exercícios à noite pode interferir no sono pois, embora o corpo esteja cansado, o cérebro permanece acelerado devido à atividade física. ” finaliza o especialista.

Essa abordagem ressalta a importância de um acompanhamento médico adequado para evitar a dependência de medicamentos para dormir, principalmente em casos em que a insônia é causada por fatores emocionais ou psicológicos, como o estresse acadêmico, tão presente na vida de muitos jovens.

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