terça-feira , 22 outubro 2024
Júlia de Fátima

Falta de vínculos afetivos com os pais é causa de atraso no desenvolvimento infantil

Com 12% das crianças brasileiras em risco de atraso no desenvolvimento, a compreensão dos vínculos afetivos se torna essencial para um futuro saudável

De acordo com o Ministério da Saúde, 12% das crianças brasileiras apresentam suspeita de atraso no desenvolvimento. Além disso, o escore geral da Atenção Primária à Saúde infantil no Brasil foi de 5,7, abaixo do padrão mínimo de qualidade, que é de 6,6. Esses dados são particularmente relevantes à luz da Teoria do Apego, desenvolvida pelo psiquiatra britânico John Bowlby e publicada em seu livro “Apego” em 1969. 

A teoria investiga como as interações interpessoais, especialmente aquelas entre a criança e seus cuidadores, impactam o desenvolvimento emocional e social, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento desde a infância. Essas relações evidenciam o atraso no desenvolvimento identificado nas crianças brasileiras e possibilita a busca por intervenções adequadas.

Segundo Natália Aguilar, psicóloga parental, “o apego é uma necessidade básica, assim como comer ou dormir”. Quando as crianças nascem, dependem de cuidadores para atender suas necessidades fundamentais e regular suas emoções. A especialista ressalta que “o cérebro do bebê ainda não está totalmente desenvolvido para lidar com essas demandas sozinho”, o que torna a presença de uma figura de apego essencial para garantir a sobrevivência e o desenvolvimento saudável.

Esses vínculos de apego continuam a influenciar o comportamento ao longo da vida. Cássia Rocha, universitária de 21 anos que realizou acompanhamento psicológico quando criança, comenta sobre sua experiência e coisas nas quais ela tinha apego quando pequena. “Eu me lembro de sempre me apegar a pessoas, principalmente ao meu pai e brinquedos que significassem algo pra mim. Até hoje eu sou assim, talvez um pouco egoísta. Observo o meu comportamento, pois sei que a minha tendência natural é me apegar a coisas e relações muito facilmente”, compartilha.

Os benefícios dessa teoria tornam-se ainda mais evidentes quando as crianças e, mais tarde, os adultos enfrentam desafios como ansiedade, hiperatividade ou dificuldades de aprendizagem e socialização. A estudante ainda completa: “Quando eu tinha coisas ou pessoas para me apegar me ajudava, ficava menos agitada, porque a presença daquilo ou daquela pessoa me acalmava.” Para ela, esses apegos emocionais proporcionaram um suporte que foi fundamental em momentos de insegurança ainda pequena.

Entretanto, Natália explica que “quando os cuidadores são responsivos e conseguem decifrar as necessidades das crianças, isso cria um ambiente seguro para o desenvolvimento emocional”. Essa segurança permite que as crianças se sintam confiantes para explorar o mundo, sabendo que têm um porto seguro para retornar. No entanto, a estudante lembra que a ausência desse suporte em alguns momentos foi sinalizada pelos pais: “Eles perceberam que eu ficava muito dependente em situações que estivesse longe deles e que isso era diferente do comportamento de outras crianças que brincavam e socializavam.”

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A abordagem da teoria do apego na terapia pode, portanto, ser um poderoso aliado na promoção de habilidades sociais e de enfrentamento em crianças e adultos. “Quando a criança se sente segura, ela desenvolve maior confiança para interagir socialmente e enfrentar desafios,” destaca Natália. Em 2022, 82,9% das crianças menores de 13 anos no Brasil foram atendidas por serviços de atenção primária à saúde, o que ressalta a importância do apoio adequado desde a infância. 

Cássia comenta a sua evolução e aprimoramento de habilidades sociais na infância, junto aos cuidados de seus pais, embora ela admita que não tenha total clareza sobre a teoria em si durante o processo terapêutico quando pequena: “Não sei o que é isso,” menciona, mostra que o efeito pode ser sentido mesmo que ela não compreenda o conceito teoricamente. A compreensão da teoria do apego e sua aplicação na infância além de proporcionar suporte mental, promove o desenvolvimento emocional, ou deixa consequências para o resto da vida, as quais podem ser tratadas mediante a um acompanhamento psicológico na fase adulta também.

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