segunda-feira , 16 setembro 2024
Alessandro Saade

Construindo um futuro mais inclusivo e menos desigual por meio da capacitação da juventude brasileira

Sem um melhor futuro para os jovens, não há como qualquer sociedade ter perspectiva de um futuro melhor
Por Alessandro Saade, para outrosquinhentos.com*

O Brasil avançou duas posições em 2023 e fechou o ano como a nona economia mundial, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Os programas públicos de assistência social vêm sendo ampliados e o país registrou um saldo de quase 1,5 milhão de empregos formais gerados em 2023, segundo o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego.

De 2021 a 2022 o percentual de brasileiros em situação de pobreza (que vivem com até R$ 637 mensais) caiu de 36,7% para 31,6%, enquanto a proporção de pessoas em extrema pobreza (que vivem com menos de R$ 200 por mês) caiu de 9,0% para 5,9%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar disso tudo, o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo – o vice-líder em desigualdade entre os países do G20, ficando atrás apenas da África do Sul, segundo o relatório World Inequality Lab. Para mudar esse jogo, é necessário pensarmos não apenas em reformas estruturais, mas também em novas e melhores políticas públicas e articulações da sociedade civil voltadas aos jovens.

Conforme apontam os mais recentes dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, em 2022 quase metade dos brasileiros com até 14 anos de idade viviam em situação de pobreza, enquanto 10% viviam em condição de pobreza extrema. Na faixa etária de 15 a 29 anos de idade, o Brasil registrou no mesmo ano 10,9 milhões de jovens na chamada condição “sem-sem” (sem acesso ao estudo e sem acesso ao trabalho), ou 22,3% do total de indivíduos desse grupo (48,9 milhões). O número supera a população de países como Portugal e Grécia.

Sem um melhor futuro para os jovens, não há como qualquer sociedade ter perspectiva de um futuro melhor. Esse é um princípio que soa óbvio, mas que ainda não é percebido como deveria, gerando um forte movimento que busque atenuar os contrastes do nosso país. Reforçar instrumentos de resultados comprovados para a capacitação profissional dos jovens, por exemplo, faz todo sentido.

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Um deles é a Lei de Aprendizagem (Lei no 10.097/2.000), também conhecida como Lei do Jovem Aprendiz – uma das políticas públicas de maior eficácia no país, que em pouco mais de vinte anos já ajudou mais de 4 milhões de jovens a conseguirem seu primeiro emprego, impactando positivamente não somente a eles, mas também suas famílias e comunidades. A inclusão produtiva das juventudes e o futuro do trabalho serão temas de futuras abordagens nesta coluna. Por ora, gostaria de destacar iniciativas voltadas à capacitação dos jovens ainda antes da primeira experiência profissional.

No Espro, por exemplo, oferecemos cursos gratuitos por meio do projeto de Formação para o Mundo do Trabalho (FMT). São treinamentos voltados a jovens de 14 a 22 anos que desejam ingressar no mercado de trabalho, mas que ainda não se sentem preparados para este momento.

As capacitações são realizadas em três formatos: FMT Presencial, ofertado nas diversas unidades do Espro em todo o país; FMT Online com Tablet, em que é enviado para a casa do jovem um tablet com chip de dados para uso durante o curso; e FMT Online por Aplicativo, realizado por meio de app de mensagens instantâneas, buscando o atendimento a jovens onde o Espro não possui unidade física.

Além de apoiar o combate à desigualdade econômica, por atender predominantemente a jovens em situação de vulnerabilidade social, o FMT busca diminuir outras desigualdades por meio de turmas afirmativas, como as voltadas ao empoderamento feminino, a jovens negros, a refugiados/migrantes e a jovens identificados com a comunidade LGBTQIAPN+. São iniciativas cada vez mais realizadas junto a empresas parceiras ou a outras organizações da sociedade civil.

Exemplo é uma turma de FMT feita em 2023 através de uma parceria com a Corteva Agriscience, multinacional americana que atua nos segmentos de sementes e proteção de cultivos, para a capacitação profissional de jovens negras de 17 e 22 anos de idade. Totalmente gratuito e com certificação, o curso formou 24 alunas e, destas, dez foram aprovadas no processo seletivo para trabalhar na própria empresa, em áreas como Comunicação, Pagamentos e Atendimento. A iniciativa rendeu ao Espro e à Corteva o prêmio ouro da categoria “Ações Voltadas à Diversidade” da 21ª Mostra de Comunicação do Agro.

Já os cursos de FMT para jovens refugiados e/ou migrantes, realizados desde 2022 em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), já capacitaram mais de 100 jovens em turmas ocorridas em cidades como São Paulo, Porto Alegre e Manaus. Além de treinamentos relacionados ao mundo do trabalho, os jovens participam de imersões sobre aspectos históricos e culturais do Brasil. Como a maioria dos jovens atendidos são de países de língua hispânica, as sessões são ministradas em português, mas contam com um instrutor bilíngue e material didático traduzido para o espanhol.

Reconhecendo o impacto da iniciativa, a Prefeitura de São Paulo premiou o Espro com o Selo de Direitos Humanos e Diversidade na categoria “Transversalidade” por promover a inserção de refugiados e migrantes no mercado de trabalho brasileiro.

As turmas de FMT, afirmativas ou não, também podem dar ênfase a áreas específicas de atuação, como robótica, audiovisual, serviços digitais na nuvem e logística. Para 2024, a expectativa é atender mais de 5 mil jovens em todo o Brasil, considerando-se todas as modalidades. Tudo isso para prepará-los da melhor maneira possível para suas trajetórias pessoais, permitindo serem protagonistas em suas vidas e carreiras.

Tomando como inspiração uma frase célebre do escritor americano Neil Postman (1931-2003), os jovens são as mensagens vivas que enviamos a um tempo que não veremos. Ações como o projeto de FMT materializam a nossa responsabilidade de guiar as novas gerações para que elas contribuam para um futuro melhor, menos desigual e mais inclusivo. As nossas ações de hoje terão impacto a longo prazo. Não podemos desperdiçar tempo.

*este conteúdo é uma contribuição de Alessandro Saade, Empreendedor Compulsivo, executivo, mentor, TEDx speaker. Agente de Desenvolvimento Social e Econômico e Superintendente Executivo do Espro, instituição sem fins lucrativos que há 45 anos oferece aos jovens brasileiros a formação para inserção no Mundo do Trabalho. Os conteúdos assinados são de responsabilidade dos colunistas autores convidados e não necessariamente representam a opinião de outrosquinhentos.com

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